sexta-feira, 2 de maio de 2008

Bebel 2008


A filósofa francesa Judith Revel, próxima de Toni Negri, e que participou no mesmo encontro em Lisboa, tem uma visão diferente. Para ela, 68 coloca-nos perante uma revolução de um novo tipo, sem programa conhecido à partida e cujo sujeito (os proletários? Os estudantes?) não está pré-definido. "Não estou de acordo com a ideia de que a quebra das identidades colectivas que aconteceu em 68 produziu o individualismo. A quebra das identidades colectivas que conhecíamos, como o partido, o sindicato, produziram a experimentação de outras modalidades de organização. Isso viu-se na dimensão de outros movimentos, como o feminismo", afirma.Jappe e Revel têm visões diametralmente opostas quanto ao presente. Para o primeiro, o capitalismo contemporâneo, "pós-fordista", é uma catástrofe antropológica: "Depois de 68 aconteceu o maior ataque que já vimos até hoje na história da humanidade ao poder da poesia e da imaginação, com os media electrónicos, a televisão, a Internet, a banda desenhada e mesmo um ataque à grande cultura. É um corte com todas as possibilidades de imaginar. Assistimos a um empobrecimento do psiquismo humano e mesmo da possibilidade de criar algo diferente." E conclui: "Há quem defenda que 68 não foi mais do que uma aceleração da modernização e a ideia que o capitalismo pode chegar a um resultado positivo, mas, para mim, o capitalismo é uma catástrofe histórica desde o princípio, que se acelera e da qual é preciso sair". Já para Revel, "[68] é quando a economia capitalista foi obrigada a passar de uma estrutura nacional para uma estrutura global, foi porque já não conseguia gerir os movimentos. A globalização económica é uma produção de 68 enquanto reacção a um fracasso [do poder]. Não penso que as coisas sejam piores com a globalização do que eram antes, porque a globalização da economia é acompanhada de uma globalização da resistência, que é um instrumento precioso". - 02.05.2008, Miguel Gaspar - in O Público

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